Quantcast
Channel: opinião – CinemaXunga
Viewing all articles
Browse latest Browse all 23

Crocodile Dundee – A pior trilogia do mundo

$
0
0

CocodrileDundee

Um dos assuntos que mais largura de banda queima na Internet é “Qual a melhor trilogia?”. Defensores das várias facções batalham-se 24 horas por dias, desde os tempos das BBS e os modems de 9600 bauds, esgrimindo argumentos e tirando partido da sua melhor retórica para defender aquela que é, do seu ponto de vista, a melhor trilogia cinematográfica. Note-se que trilogia nos dias de hoje não é necessariamente um conjunto de 3 filmes, mas uma molhada deles que pode ir dos 2 aos 56. No entanto ninguém fala daquilo que é realmente importante que é saber qual a pior trilogia de sempre. Tendo em conta a subjectividade inerente a este tema, escolhi como pior trilogia de sempre o Crocodile Dundee. Para a semana pode mudar, mas esta semana odeio de modo figadal o Paul Hogan e as suas tropelias de parolo australiano em solo americano.

As aventuras de Mike “Crocodile” Dundee inserem-se num tipo de filme muito usual nos anos 80 que era o esquema “peixe fora de água”. Normalmente o personagem principal vinha de um local, de uma cultura, até de um tempo diferente e era inserido num contexto que não o seu e todas as suas acções eram notadas como bizarras ou excêntricas. Com o evoluir do filme íamos ganhando empatia com aquele personagem porque o seu bom coração compensava a falta de maneiras, fossem elas limpar o rabo um couve lombarda ou esfaquear o empregado de mesa porque o seu tom de pele é demoníaco nas estepes budistas de Bhaktpur.

Muitos podem consideram esta opção de “demonizar Dundee como a pior coisa que saiu dos anos 80″ uma heresia, no entanto há que ser realista. Pensem lá bem nestes filmes e o que vos vem à cabeça? Crocodile Dundee é um tipo meio (se calhar quatro quintos) selvagem, mas simpático, que vem da Austrália para Nova Iorque. Todos nos rimos porque ele é um indígena perfeitamente ignorante cujo odor corporal atinge uma área superior a um campo de futebol (de 11). Manda umas pauladas nuns patifes dos gangs novaiorquinos dos anos 80, impressiona os hipsters americanos com as suas artes de bushman e come a jeitosa que, negando a sua natureza feminina, não se deixa impressionar pelo aspecto exterior e apaixona-se pelo coração doce e libido marsupial.

Estes pontos são, contudo, meramente concepcionais. Porque em termos de narrativa, Crococile Dundee é um pastelão monodimensional que nunca levanta ponto de interesse, nem altos, nem baixos, muito menos clímax compatível com o típico género de aventuras dos anos 80. É um showcase de Hogan que parece vencer tudo com o seu charme Australiano. E aparentemente funcionou, porque quando estreou não me chocou. Pareceu-me aceitável.

Ora, acontece que ontem vi a sequela e reparei nisso. Reparei que aquele é o filme mais insonso e aborrecido de todos os tempos. Há uma sequência de piadas interminavelmente enfadonhas  (mesmo àquela altura) em que Dundee é um gajo que “domina a floresta e apanha os maus” num argumento bastante semelhante ao que estamos habituados a ver nos dias de hoje em Carteiro Paulo, Dora a Aventureira ou mesmo em nos episódios mais frenéticos da Selva sobre Rodas. De resto, desde os cenários em papel machê ao péssimo casting, passando por horríveis escolha de iluminação ou a total ausência de continuidade, o filme é aquilo que se esperava dele, uma bela merda. Estou a falar ainda do tomo 2, que foi o que vi ontem.

O primeiro é a apresentação de Dundee e dos seus truques de circo, onde atinge na cabeça um ladrão em fuga com uma lata de feijão ou controla um touro com dois dedos, a dicotomia do selvagem neandertal sem maneiras na cidade mais sofisticada do planeta, representada pela cena do hotel em que o nosso herói dorme numa tenda, lava a roupa na banheira e estende-a na sala do hotel mais caro da Big Apple. O terceiro passa-se em Los Angeles e foi lançado em 2001 mas eu nunca o vi. Mas sei que não vale um chavelho. Como o Robocop 3, aquele em que ele voa.

Além de Paul Hogan temos uma jovem chamada Linda Kozlowski que é a tal musa que se apaixona por Dundee, como se de King Kong se tratasse. Só falo nisto para introduzir a foto que vou colocar de seguida, porque dela nunca mais se ouviu falar.

Também há um video, só que não tem permissões de incorporação.

 


Viewing all articles
Browse latest Browse all 23